A bela dos musicais
Sara Sarres, a consagrada soprano brasiliense, chega à TV, mas não se afasta dos palcos
Acostumada ao ritmo frenético de ensaios no teatro, onde milita há mais de quinze anos, a brasiliense Sara Sarres topou com um novo desafio: atuar na TV. Desde maio a atriz participa de Dona Xepa, novela da Record, remake de Gustavo Reiz para o folhetim de 1977 escrito por Gilberto Braga e exibido originalmente na Globo. Ela interpreta um dos vértices do triângulo amoroso central da história, no núcleo da personagem-título, vivida por Ângela Leal. “É completamente diferente dos palcos. A atriz tem de chegar lá pronta para o ‘gravando’. Como sou caxias, muito estudiosa, dei sorte”, diz Sara, que tem 33 anos.
Mesmo com o alcance maior de público que a TV lhe proporcionou, ela não pensa em trocar o teatro musical pela telinha. “Em Dona Xepa, o esquema foi tranquilo, pois as gravações ocorreram em dias nos quais eu não estava no teatro. Só me dedicarei à TV se for possível conciliar os dois”, afirma. A escolha justifica-se. Sara é protagonista de grandes sucessos do teatro musical no eixo Rio-São Paulo. Já estrelou produções do porte de Les Misérables, O Fantasma da Ópera e Cats (veja o quadro ao lado), com elogios da crítica e aplausos do público.
A inspiração para a menina Sara, aos 5 anos, foi Dorothy, a garota dos sapatinhos vermelhos do filme O Mágico de Oz (1939). Na corrida atrás do sonho, e na busca de experiência em interpretação, música e dança, ela fez aulas de balé e ingressou na Escola de Música de Brasília. Ali, estudou piano, canto lírico e percussão erudita. Na adolescência, apresentou-se em papéis expressivos. Aos 13, encarou a ópera La Traviata, de Verdi, na Escola de Música. Dois anos depois, participou de A Flauta Mágica, de Mozart.
Junto do amigo Saulo Vasconcelos, também destaque na cena musical, e do maestro Marconi Araújo, Sara fundou a Companhia de Teatro Musical em meados dos anos 90. “Cantávamos em corais e nos reuníamos para estudar os musicais. Montamos Jesus Cristo Superstar, de Andrew Lloyd Webber”, relembra. “Tudo amador, mas cheio de paixão.” Aos 18 anos, idade na qual soltava a voz em casamentos e boates, passou no vestibular para educação artística com licenciatura em música na Universidade de Brasília.
Em 2001, quando começaram os testes para a montagem brasileira de Les Misérables, pioneira nas franquias saídas da Broadway, Sara trancou a faculdade. Foi para São Paulo participar das audições e lá fincou raízes. Depois de viver Cosette na adaptação teatral do clássico de Victor Hugo, emendou um trabalho no outro. Entre eles, estão Godspell, O Circo da Paixão, em 2002, Cole Porter – Ele Nunca Disse que Me Amava, em 2004, e, no mesmo ano, Comunità.
Sara volta à capital sempre que pode. Com tantas sessões semanais, só consegue viajar no esquema bate-volta. “Quando estou na cidade, aproveito meu tempo curtindo a família”, conta ela, que namora há mais de dez anos o diretor de palco paulistano Gustavo Collesi. No ano passado, retornou à terra natal para encantar os brasilienses com La Bohème, de Puccini, e Carmen, de Bizet, ambas no Teatro Nacional.
Atualmente, ensaia para dar vida a Jane Valadão em A Madrinha Embriagada, baseado no musical canadense The Drowsy Chaperone. A direção é de Miguel Falabella. Com estreia prevista para agosto no Teatro do Sesi, em São Paulo, a peça terá oito sessões por semana, todas elas gratuitas, durante onze meses. A proposta é popularizar os musicais. Sara coordena, também na capital paulista, o Projeto Educacional em Teatro Musical, que prevê um curso de formação técnica a partir de 2014. “Serão três anos, sem custo para o público”, explica.
A atriz que sonhava em ser Dorothy deixou o reino encantado de Oz para lá, mesmo tendo participado de seu musical favorito no ano de 2003, em outro papel. Com 1,70 metro e formas voluptuosas, não tinha o porte físico adequado para a protagonista: “Não faz mal. Já interpretei muitas vezes Somewhere over the Rainbow (tema da personagem) nos meus tempos de cantora.”